quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Município de Queimados

Grupo responsável pela pesquisa no município de QUEIMADOS: 
 


Fabio Inocencio, Fernanda Bittencourt, Gabriel Mendes, Kleber Mattos

 e Raphael Laranjeira


Queimados, um município do Estado Rio de Janeiro que inicialmente fazia parte do município de Nova Iguaçu (Grande Iguaçu), tentou se emancipar em 1878 pela primeira vez, mas somente em 1990 emancipou-se,de fato. Seu primeiro prefeito, Jorge Cesar Pereira da Cunha, só tomou posse em 1993. Atualmente possui 23 bairros residenciais perto da linha férrea, incluindo a zona rural distante das linhas de transporte e um Distrito Industrial, criado em 1978.


Figura 1. Recorte geográfico da região de Queimados na convenção atual.






Aspecto Histórico 

“A ocupação das terras começa com a doação da primeira sesmaria a Garcia Aires, em 1592, com 3.000 braças, em quadro, no rio Carapicu. Em 1615 entre os cursos dos rios Carapicu e Guandu o cidadão Lourenço São Paio recebe outra sesmaria e quatro anos após outra é concedida a Manoel Corrêa e Antonio Francisco Alvarenga”.

Em 29 de março de 1858, a família imperial, a bordo do primeiro trem da Estrada de Ferro D. Pedro II, seguia em missão especial para inaugurar o trecho de 48 km compreendido entre a Estação do Campo (atual Central do Brasil), na Província do Rio de Janeiro até a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Marapicu (atual Queimados) num total de 48 quilômetros. A população do lugar assistiu à solenidade, sentiu-se honrada pela visita do Imperador e entendeu aquele momento como sendo o instante oficial da inauguração do povoado de Queimados.

Isso marcou a evolução urbana do Distrito de Queimados vinculada à chegada da linha férrea e à produção agrícola de milho, mandioca e laranja, facilitando o fluxo de mercadorias e de pessoas posteriormente. Assim, culminando no processo de aglomeração e espacialização de áreas rurais em áreas urbanas periféricas.

Se o desenvolvimento de uma metrópole urbana começa a partir das ligações modais, as primeiras malhas ferroviária e rodoviária vinculadas à metrópole do Rio de Janeiro, principal zona econômica do Estado, o trem foi vital para o surgimento de Queimados, como as rodovias têm sido na atualidade impulsos ao desenvolvimentismo estimulado no município.

Emancipado  em  1990,  o  município  de  Queimados  situado  na  região  metropolitana do Rio de Janeiro, mais especificamente na Baixada Fluminense é atualmente um município de alta densidade populacional, que mesmo tendo sido emancipado recentemente do município de Nova Iguaçu, possui uma descentralização das zonas dinâmicas, em que as atividades econômicas não estão concentradas em uma ou duas vias. Além disso, o município ainda não perdeu suas características residenciais, como no caso dos centros dinâmicos de Nova Iguaçu ou de São João de Meriti.



Estudo de caso: ida do grupo ao município de Queimados

Em busca de informações relevantes sobre o município, o grupo optou pela realização de um estudo de caso que incluiu uma visita à Igreja Nossa Senhora da Conceição de Marapicu, localizada à frente da estação ferroviária, especialmente por considerar que esta edificação seria um testemunho histórico da época em que Queimados era apenas uma freguesia, com laranjais em seu entorno e a igreja uma instituição central para entender a estrutura fundiária no município e no Estado.
O grupo foi ao Centro de assistência social (na Rua Olímpia Silva, Centro de Queimados),onde entrevistou uma Assistente social, questionando-a  sobre os problemas sociais que a prefeitura de Queimados enfrenta. A funcionária deu uma visão panorâmica e crítica sobre os contextos sociais com seus aspectos positivos e negativos, revelando-nos    o    funcionamento    de    programas    que    ela    conhece    na    prática, segundo seu ponto de vista pessoal.


Figura 2. Antes (aprox.1940) e depois (2014) da Igreja de N.S.da Conceição de Marapicu.


Continuamos com nossa pesquisa de campo com os moradores de Queimados, aos quais indagamos sobre suas percepções sobre o município, abrangendo desde a origem do nome do município, a questões relacionadas à segurança, ao mercado de trabalho, às oportunidade de lazer, o acesso aos meio de transporte, ao saneamento básico e outras questões sobre desigualdade, educação,  saúde e a  satisfação  deles  com  o  momento  atual  de  Queimados.  Sobre  o conteúdo pesquisado, observamos que a população está satisfeita com as melhorias que ocorreram desde a emancipação, que ocorreu após referendo em 1990. Antes da emancipação os recursos destinados à melhoria do município, segundo os moradores, se concentravam no centro de Nova Iguaçu.

Muitos moradores não fazem ideia do motivo do nome do município, porém os que arriscam transmitir uma história oral, majoritariamente dizem ser devido à chegada de D. Pedro II em visita à freguesia, onde pode avistar uma queimada no cume de uma colina onde atualmente localiza-se o município de Queimados. Embora essa versão histórica seja predominante, existem outras versões populares, como a de que chineses, trabalhadores da antiga estrada de ferro, tinham o hábito de queimar seus mortos no local onde se encontra a atual estação de Queimados. Outras versões incluem a história de que Queimados tem esse nome por causa de um antigo Leprosário que havia na atual Estrada do Lazareto e outra versão diz que Queimados tem esse nome porque negros escravizados eram torturados sendo queimados ali.

Sobre a segurança, além das questões sobre a sensação de segurança segundo os moradores obtida por meio das entrevistas, o grupo buscou informações na delegacia onde fomos informados que a ocorrência mais comum no município seriam os relacionados a confusões familiares, enquadrados no boletim de ocorrência com a Lei Maria da Penha. O aumento de assaltos na localidade, na opinião dos profissionais que trabalham com segurança pública, é causado pela criação e instalação de UPPs (Unidade de Polícia de Pacificação) na capital do estado, que provocou uma migração forçada dos meliantes para áreas periféricas da Baixada Fluminense.

Com  respeito  ao  mercado de trabalho,  visitamos  a  Secretaria  de  Trabalho  e  entrevistamos uma agenciadora de empregos. Criticamente, ela nos forneceu dados sobre situação dos desempregados que procuram empregos em Queimados. Para ela, os queimadenses que desejam trabalhar no Distrito Industrial do município não têm qualificação necessária, pois o pólo exige experiência e domínios técnicos. Dentre os que trabalham em Queimados, ganharam experiência trabalhando em outros municípios e grande parte preferiu Queimados se sujeitando a um salário menor mas por outro lado ganhando devido à facilidade em se chegar ao local de trabalho, fugindo de grandes engarrafamentos.

Segundo dados do IBGE, em 2012 eram 7.055 matrículas no ensino médio dos 25.141 matrículas no ensino fundamental. Um afunilamento da frequência de estudantes nas demais etapas do ensino na região. Falta de vagas e baixa qualidade são apontados como a causa desta situação.

Visitamos a secretaria do meio ambiente (Rua Plínio Giosa) e entrevistamos Raquel, da secretaria de urbanismo e Andréia Loureiro, engenheira florestal. A especialista em urbanismo nos elucidou que Queimados não é mais considerado uma área predominantemente rural, já que o município direciona seu desenvolvimento à lógica urbano-industrial que não parece beneficiar a população local, que sofre com a poluição jogada pelos dutos das fábricas no ar, nos rios, pela área do distrito Industrial. Principalmente, industrias químicas e farmacêuticas e refinaria petrolíferas que degradam o entorno.

O Minha Casa Minha Vida também tem influenciado a conjuntura de transformações vividas no município, já que o programa de habitação popular tem realocado famílias no interior do município, como no bairro de Belmonte.


Figura 3. Belmonte, Queimados; programa: minha casa, minha vida.


Sobre as especificidades nos meios de transporte do município, destaca-se o fato de haver em  Queimados  um  ponto  de  charretes  que  fazem  o  itinerário  da estação até  o  posto  de saúde mais próximo e este vem dividindo opiniões. Uns são a favor das charretes pois entendem que estas chegam em áreas não pavimentadas do município, outros são contra pois as charretes são velhas, alguns animais de tração parecem não muito bem cuidados e alguns acham as charretes dão uma impressão para quem chega na cidade. Em questão aparece a questão do confronto ideológico e político da ideia de moderno, progresso e urbano. A responsável pelo transporte de charretes, Cátia Botelho, recusou a proposta da prefeitura de receber investimento público em troca de uma redução do número de charretes, diminuição da jornada de trabalho dos animais de tração e mudança do itinerário costumeiro. O grupo não sabe como a questão irá de desenrolar, mas esta parece ser uma questão interessante a ser investigada pois evidencia a questão rural/urbano no município de Queimados e nos permite refletir sobre a complexidade teórico-prática da definição de campo e cidade.


 Religião 

Queimados é um município onde a presença da religião se faz presente no hino da cidade onde o elemento aparece em um trecho da música e no lema da cidade que diz: “nossa história é de lutas mas com Deus nós venceremos”. Dentre as denominações, predomina a evangélica e católica, e em menor número, se encontram espíritas, batistas e pessoas sem religião.

Lazer

As opções de lazer de Queimados são bem diversificadas, contudo, nota-se uma preferência para diversões em áreas públicas como a famosa Praça dos Eucaliptos, onde frequentemente há shows e festas; seguidos pelo Teatro; Bailes e Danceterias (dando destaque para o Queimadão); Bares e Restaurantes; e os que se divertem em outros municípios.




Figura 4. Praça dos Eucaliptos, Queimados-Rj.

 Saúde 

Apontada pelos entrevistados como um caso sério, na comparação com os municípios da redondeza, Queimados apresenta melhores números que outros municípios da Baixada Fluminense. Possui 9 estabelecimentos municipais e 13 particulares (conforme o IBGE, 2009). 


 Educação

Observa-se claramente uma evasão escolar do ensino fundamental com relação ao ensino médio. A entrevista realizada não nos deu resultado diferente do que é apresentado pelo IBGE. Reforçou os dados, mostrando que grande parte dos alunos só frequentam ali o ensino fundamental e muitos procuram vagas em colégios fora do município, já que neste são poucas as escolas de ensino médio. Todavia este resultado vêm se modificando. Com a criação do campus da UERJ/Queimados, isto tende a mudar; se prevê que em 2016 já esteja funcionando, o que pode provocar uma mudança conjuntural favorável a um maior investimento na educação.


Considerações Finais

Fazendo  aflorar  o  senso  crítico  dos  queimadenses,  que  em  sua  maioria  estão satisfeitos com seu município, foi perguntado o que os moradores mudariam em seu município, caso tivessem poder para isso. Em ordem de prevalência estão: Saúde, Educação, Lazer, Saneamento, Limpeza, Emprego e ainda alguns disseram que não mudariam nada.


Referências bibliográficas

Simões, M. RAmbiente e Sociedade na Baixada Fluminense.

Mesquita:Entorno,2011.1 DVD-ROM


Pelos estudantes: Kleber Mattos; Raphael Laranjeira; Fábio Inocêncio; Gabriel Mendes e Fernanda Bittencourt.

Memórias de Magé: Uma abordagem histórica e espacial sobre as riquezas do município de Magé, no Rio de Janeiro.

O presente trabalho, através de uma visita técnica à cidade de Magé, buscou dar visibilidade a elementos históricos e culturais da cidade, que assim como toda a Baixada Fluminense, sofre com os estigmas sociais e o racismo ambiental da grande mídia e da classe dominante, como destaca José Cláudio Alves, professor da UFRRJ e um assíduo pesquisador da violência nos municípios da baixada fluminense.

O município apresenta patrimônios importantíssimos para a história do Rio de Janeiro, sobretudo para o período imperial, quando Magé assumia um caráter de cidade portuária, contendo dois dos mais importantes portos do Brasil na época, e a primeira estrada de ferro do país, alavancando o transporte de mercadorias e facilitando a locomoção da Família Real que residia em Petrópolis, para o Centro do Rio de Janeiro, então capital na época. Magé também favorecia geograficamente o transporte de metais preciosos para as Minas Gerais, mais especificamente, para a famosa Vila Rica.

A comparação de recortes passados, com aspectos atuais do município, é imprescindível para um maior entendimento sobre como se transformaram as dinâmicas de uso do território e evidenciar a negligência do poder público em alguns casos os quais não procurou preservar de forma adequada a história Mageense.
           
 A primeira estrada de ferro do Brasil foi criada por Barão de Mauá, sendo inaugurada em 1854. Até então, seguiria da Praia de Mauá até o distrito de Fragoso. Em 1856, a linha se estenderia até Raiz da Serra.  O Porto Mauá era interligado à Estação Guia de Pacobaíba, tendo um valor histórico importantíssimo, já que nele atracavam as embarcações vindas do Antigo Largo da Prainha, atual Praça Mauá através da Baía de Guanabara, promovendo uma relação íntima com os sujeitos do império que se direcionavam à Petrópolis e à Minas Gerais. Magé representa o alvorecer da história férrea brasileira.

Ruínas do Porto Mauá (2014)

Ao visitar o local do antigo Porto Mauá e Estação Guia de Pacobaíba, nota-se que boa parte da estrutura portuária se perdeu, restando apenas sua estrutura de ferro que os habitantes de Mauá chamam de ‘’Ponte de Ferro’’. A estação Guia de Pacobaíba recebeu investimentos em restauração para a abertura e exposição de peças da Locomotiva e objetos históricos à população. O Trecho Ferroviário Mauá-Fragoso foi tombado pelo Patrimônio Artístico Nacional em 1954. Decreto – Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937.

Ruínas da locomotiva Leopoldina (2014)   
    


Porto Mauá/ Estação Guia de Pacobaíba (2014)

Além do Porto Mauá, na Baía de Guanabara, havia outros portos com vital importância para a cidade do Rio de Janeiro, dentre eles o Porto Estrela, situado as margens do Rio Inhomirim, Magé.

O Porto da Estrela foi o maior porto de Magé, era um ponto estratégico para o escoamento de riquezas para Portugal, sendo passagem imprescindível para a Serra de Petrópolis e para o interior do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Atualmente, o Porto Estrela encontra-se em destroços, sem investimentos para preservação e com um difícil acesso para turistas.

Porto Estrela (S/D)

O Rio Inhomirim foi um importante elo entre a Praça XV, centro do Rio de Janeiro, e o Porto da Estrela na cidade de Magé. O escoamento da produção era possibilitado por suas navegações, bem como a progressão do povoamento por seus vales enquanto o Rio de Janeiro era apenas uma capitania.

 Rio Inhomirim (S/D)

Rio Inhomirim (2014)
Deixando a área litorânea de Magé e se direcionando a estação de Inhomirim, atual Raiz da Serra, podem-se notar vestígios da primeira estrada de ferro do Brasil em meio à cidade, ignorada pela população, escondida em meio ao comércio local e perdida no tempo.

A estação de Piabetá é o último ponto onde podemos encontrar a estrada de ferro em meio à cidade, duas estações antes do ponto final da Locomotiva, onde atualmente é o ponto final da Supervia[1], na estação Vila Inhomirim.

Estação Vila Inhomirim – Séc. XIX

Estação Vila Inhomirim (2014)

Em Raiz da Serra (Vila Inhomirim), pode-se encontrar, porém não visitar, a atual Indústria de Material Bélico do Brasil – IMBEL fundada primeiramente em 1808 por D. João VI como a Fábrica de Pólvora da Lagoa Rodrigo de Freitas, localizada no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Em 1826 foi transferida para a cidade de Magé-RJ, com a denominação de Real Fábrica de Pólvora da Estrela, mediante Decreto de D. Pedro I.
A partir de 1939 foi reestruturada, passando a ter a atual denominação de Fábrica da Estrela, funcionando como uma Organização Militar do Ministério do Exército até a criação da IMBEL em 1975.

Antiga Fábrica da Estrela, Raiz da Serra.

IMBEL, Raiz da Serra, 2014

Com a Instalação da IMBEL em Raiz da Serra, foram construídas duas vilas de operários, dentro e fora do complexo industrial. Percebe-se a nítida dicotomia entre a moradia do operariado e dos militares de altas patentes.

Casarão, IMBEL, Raiz da Serra (2014)

Vila Operária, IMBEL, Raiz da Serra (2014)

As fontes eram agentes importantes no contexto espacial das cidades no período Imperial, já que a precarização de saneamento básico e água potável era evidente na época. Em Raiz da Serra ainda encontra-se a fonte ‘’Pico da Rainha’’, atualmente inativa.

Foto (S/D)

Foto 2014

Ao lado da estação Inhomirim, pode-se encontrar o caminho do Proença que foi criado por um Sargento-Mor chamado Bernardo Soares de Proença em 1722 para ligar o Rio de Janeiro à Minas Gerais. O Caminho foi calçado com pedras através de escravos e a cada escravo morto, uma cruz era talhada como lembrança.

O trajeto se iniciava no Porto Estrela até Petrópolis, descendo o Vale do Paraíba, diminuindo o tempo de viagem para Vila Rica em quatro dias.

Caminho do Ouro (2014)

É sempre importante valorizarmos as manifestações culturais propostas na Baixada Fluminense. Magé também tem seu coletivo, o OPM. Estimulado pelas jornadas de junho de 2013, ele busca a promoção do encontro entre pessoas dispostas a pensar de forma resistente, os estigmas institucionalizados sobre a Baixada, e mais especificamente, sobre Magé. São organizados saraus, rodas culturais com música, danças, bibliotecas de rua e etc.

Por: Felipe Rodrigues, Júlia Ananda, Lisiane Frazão, Lucas Quintanilha e Yago Anjos



[1]SuperVia –Empresa queopera o serviço de trens urbanos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Mais informações: http://www.supervia.com.br/quemsomos.php (Ultimo acesso em: 25/11/2014)

Belford Roxo: A cidade do amor.


Por: Eduardo , Gabriel Ferreira, Gustavo Boechat, Héliton Torres, Renato Gadioli e
Simone França


A origem  do município: dos Jacutinga à fazenda do Brejo
           Inserido na região metropolitana do Rio de Janeiro e mais especificamente na Baixada Fluminense, Belford Roxo se emancipou em 1 de Janeiro de 1993 e segundo o Censo 2010 do IBGE possui uma área de 77,815 Km2, onde vive uma população de 469.332 habitantes, o que resulta em uma das maiores densidades demográficas do Rio de Janeiro (6.381,38 hab./Km2). Para tentarmos entender o que hoje é a cidade, precisamos voltar no tempo para conhecer a sua história e evolução urbana. Por meio de um trabalho de campo realizado no centro do município de Belford Roxo, no dia 08 de outubro de 2014, foi possível entrevistar alguns moradores que pouco conheciam  ou tinham algum interesse em conhecer a história da cidade, sendo apenas citado a emancipação do município como fato recente da história local.

Foto: Belford Roxo e sua localização 
dentro da região metropolitana do Rio de Janeiro


Fonte: IBGE cidades 2010 Belford Roxo

Foto: Divisão regional de Belford Roxo e seus bairros
Fonte: http://suelydebemcomavida.blogspot.com.br/2012/01/mapa-da-cidade-de-belford-roxo.html

A localização das terras onde hoje é a cidade foi assinalada pela primeira vez em 1566, pelo mapa elaborado por João Teixeira Albernaz II, entre os rios "Merith, Simpuiy e Agoassu" , segundo estudo socioeconômico da cidade de Belford Roxo elaborado pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ). Sua ocupação antes da colonização era indígena, como em todo o território brasileiro, em especial dos Jacutinga. Uma marca da presença indígena na cidade se dá pelo bairro de Xavantes, onde as ruas são nomeadas por palavras de vocábulos indígenas, como diz Odarci Cardoso, animador cultural morador da cidade em entrevista (1).
            Na época da colonização inicial, as terras faziam parte da capitania de São Vicente, e por ser uma região alagadiça (como grande parte da Baixada Fluminense), se tornava um local pouco atraente aos colonizadores portugueses, tornando-a objeto de cobiça dos  franceses, que aliaram-se a grupos indígenas resistentes à colonização portuguesa, em combates pelo território. Depois da expulsão dos franceses, somente em meados do século XVIII, com divisões das sesmarias, estas terras são registradas e colonizadas em nome do capitão Apolinário Maciel e de seu irmão padre Antônio Maciel, que se instalaram ali para o cultivo de cana-de-açúcar (Rodrigues, 2013). Neste período, a localidade passa então a ser conhecida como Engenho do Brejo pelo aspecto alagadiço da fazenda em épocas de cheia do rio Sarapui, que cortava a região. É importante ressaltar que, a localidade onde hoje se encontra Belford Roxo, até a data de 15 de janeiro de 1833, era parte integrante da cidade do Rio de Janeiro, quando passou a integrar então, o quarto distrito do município de Iguaçu (Anselmo, 2008).

Foto: Fazenda do Brejo em 1872



Foto: Fazenda do Brejo nos dias de hoje


            A localidade se torna um importante centro de escoamento da produção local por possuir um porto às margens do rio Sarapuí, pelo qual era escoada a cana-de-açúcar e outros produtos agrícolas ali cultivados. A prosperidade de colheitas e engenho de toda a freguesia de Santo Antônio de Jacutinga, da qual fazia parte a então fazenda do Brejo, se estendeu até meados do século XIX, quando a região começa a ser povoada com a chegada da estrada de ferro Rio d'Ouro.

A estrada de ferro Rio d'Ouro e povoamento
            A capital do império, na segunda metade do século XIX, se modernizava e se estruturava com as referências europeias trazidas pelo imperador Dom Pedro II mas, um grande problema que se estendia desde o início da colonização e que se agravava ainda mais com o aumento da população e o processo de degradação, necessitava de uma solução urgente: a difícil captação de água potável.
            O engenheiro Antônio P. Rebouças, no ano de 1870, propõe então a captação da água da serra do Comércio (atual serra do Tinguá) e para isso era necessário o transporte de grandes tubos de ferro e melhor mobilidade de transporte dos operários e escravos que trabalhariam nesta grandiosa obra (Peres, 2003). Foram importados trilhos e locomotivas para esta função, e instalada a linha de ferro Rio d'Ouro, que ligava a praia do Caju, no Rio de Janeiro, até os mananciais do Rio d'Ouro. A ferrovia foi inaugurada em 1880, e somente em 1883, em caráter provisório, inicia-se o transporte de passageiros. Este seria o grande motivador do processo de ocupação da região de Belford Roxo. Com esta intensificação, o então dono da antiga fazenda do Brejo, Almerindo Coelho da Rocha, desfez-se dela, vendendo-a para futuro loteamento.
            Em janeiro de 1888, o verão trouxe então uma grande estiagem para a capital, agravando ainda mais a precária captação de água e as epidemias, principalmente de varíola. Nem mesmo o projeto de captação feita anteriormente era suficiente para o abastecimento. O imperador, em busca de soluções rápidas (Rodrigues e Miranda, 2014), se interessa pelo projeto ousado do engenheiro André Gustavo Paulo de Frontin, que prometia a captação de 15 milhões de litros de água em 6 dias, aproveitando-se do já implantado duto e ferrovia, com o custo de apenas 80 contos de réis (Peres, 2013). De fato, Paulo de Frontin cumpre sua promessa.
Imagem: Charge sobre o milagre das águas

Uma marca deste feito é uma das esculturas que hoje pode ser encontrada na praça Getúlio Vargas, no centro. Trata-se de um chafariz com formato de mulher, representação da deusa da água, de etnia branca, mas com a oxidação, toma cores amarronzadas, recebendo assim o nome de Bica da Mulata.


Foto: Bica da Mulata, que se encontrava no século XIX, na estação Belford Roxo.
Fonte: Arquivo pessoal

Na grandiosa obra de Paulo de Frontin, participou como grande colaborador o inspetor geral de obras públicas Raymundo Teixeira Belfort Roxo, que seria homenageado mais tarde com a nomeação da região da antiga fazenda do Brejo, mudando apenas a grafia para Belford Roxo.
            Nos anos que se seguiram, a região seguiu a tendência de Nova Iguaçu de plantio de laranjas, que prosperaram até meados dos anos de 1940. Com o fim da segunda guerra e a proibição da exportação de laranjas pelo o governo para incentivar os loteamentos e o mercado imobiliário (Anselmo, 2008), há um crescimento populacional de 219% na região.

Implantação da Bayer e emancipação
            Com a implantação da avenida Presidente Dutra e seguindo a crescente instalações de fábricas em seu entorno, é inaugurada no então distrito de Belford Roxo a fábrica da Bayer. Esta fábrica foi inaugurada em 1958, fazendo parte do ideal de Juscelino Kubitschek em modernizar o país.
Foto: Bayer Belford Roxo vista pelo o alto

Fonte:http://www.profibus.org.br/news/outubro2008/news.php?dentro=3


O distrito então apresentava a maior arrecadação do município de Nova Iguaçu, mas não se notava o retorno em serviços e infraestrutura, inclusive o estigma de região mais violenta do mundo, segundo a ONU na década de 1980 (Silva, 2003). A partir de 1985, começa um movimento pró-emancipação do distrito, liderado por Jorge Júlio Costa dos Santos, o Joca. Este movimento ganha adesão popular e dos empresários e comerciantes da região (Anselmo, 2008). A emancipação é então votada em plebiscito no ano de 1988 e 95% da população vota a favor. No ano de 1990, o projeto de lei foi votado na Assembleia Legislativa do Estado e aprovada por unanimidade. Em 03 de abril de 1992, através da lei n° 1640, Belford Roxo emancipa-se, e tem a eleição da primeira prefeitura a partir de 1 de janeiro de 1993, com o prefeito Joca eleito no ano anterior.



Foto: Jorge Júlio Costa dos Santos, o Joca.

             Joca, antes de eleito, vivia uma vida transgressora. Como cita Anselmo(2008), trabalhou como carroceiro, praticava atos ilícitos, como assaltar caminhões de carga e abastecer o comércio local, em troca de proteção pessoal. Tornou-se empresário, e também foi acusado de matador de aluguel, mas não foi condenado.
            Seu governo foi marcado pela 'caridade', favores e a presença de justiceiros, que com a falta de políticas públicas de segurança ganham status de 'protetores'. O governo de Joca também se destaca pela “propaganda” para desvincular a imagem da cidade da violência, com o slogan cidade do amor, e adotando na bandeira e brasão um coração (Silva, 2003).
            Joca foi assassinado em 1995, com 11 tiros (Monteiro, 2013), em um suposto assalto em um engarrafamento na saída do túnel Santa Bárbara, na capital, a caminho de uma reunião com o então governador Marcelo Alencar. 

A cidade desde então se caracteriza por uma política violenta e conturbada, com escândalos e disputa de poderes.
Foto: Notícia da morte de Joca no ano de 1995
Fonte: http://noticiasdebelfordroxo.blogspot.com.br/2013/06/morte-do-1-prefeito-de-belford-roxo-completa-18-anos.html

Os dias de hoje na cidade
            A cidade sofre nos dias de hoje reflexos da ocupação desordenada e descaso político. O saneamento básico da cidade é precário, como podemos ver em campo e conversando com moradores. As enchentes são frequentes, os rios que um dia refletiam prosperidade se encontram degradados e recebem milhões de litros de esgoto sem tratamento, problema não só do município, mas presente em todo o estado. Existe um projeto do governo do estado do Rio de Janeiro chamado Projeto Iguaçu (3), que promete melhorar estas condições, mas os resultados não solucionam os problemas.
Outro problema visível no cotidiano do município é o transporte público. Mesmo com a existência da linha férrea, o terminal se encontra no centro, sendo distante para a grande maioria dos moradores da cidade. Outro transporte recorrente é o ônibus, que na grande maioria dos que circulam pela cidade fazem um percurso intermunicipal. Com apenas estas duas opções de transporte público, a atividade de transportes alternativos não autorizados se intensificam, como podemos perceber em campo. Em entrevista com o prefeito Dennis Dauttman(4), ele cita um projeto em aprovação para a implantação de um veículo leve sobre trilhos (VLT) ligando Nova Iguaçu até o metrô da Pavuna, passando pela a cidade, prometendo assim uma maior mobilidade. O prefeito também cita estratégias para fazer Belford Roxo deixar de ser uma cidade dormitório com incentivos para atrair comércios e indústrias.
Foto: Estação de Belford Roxo
Fonte: Arquivo pessoal

Obras de trocas de manilhas na rua José Haddad. Fonte: Arquivo pessoal

Cultura e lazer
            A cultura e o lazer são mais dois aspectos que se nota o descaso de anos dos governantes. A cultura de Belford Roxo, mesmo que muito rica, se apresenta como uma cultura de resistência. Encontra-se na cidade, polos de cultura criados e mantidas pela comunidade, como exemplo o centro cultural Donana(5), também tema de um documentário com sua história(6). Muitos nomes importantes para a cultura são nascido em Belford Roxo como Marcelo Yuka, Jovelina Pérola Negra e Seu Jorge, entre outros, além de ser berço do grupo Cidade Negra como cita o Mapa cultural do Estado.
          
Foto: Centro cultural Donana nos anos 1980


Nas entrevistas realizadas pelo grupo, quando perguntados sobre opções de lazer na cidade, todas as respostas apontaram o pequeno shopping há pouco inaugurado, evidenciando a demanda por outros equipamentos de lazer na cidade, e os que já existem como a Vila Olímpica e o Country Clube, não são acessíveis a todos os públicos.
Foto: Shopping Nova Belford-roxo.  
Fonte: Arquivo Pessoal

Considerações finais
            Além de se notar uma cidade carente da presença do estado, percebemos que ali se localiza uma população acolhedora e batalhadora. Mantemos a esperança de voltar à cidade e ver que enfim, toda a bela história foi compensada por um belo futuro para a sua população, condizendo assim com sua história e cultura rica e próspera.

Galeria de fotos pessoais de Belford Roxo






Foto da igreja Matriz de N. S. Da Conceição






Foto: Escultura em homenagem a emancipação em frente a estação









Foto: Divisão de homicídios da baixada fluminense que se encontra na rua Floripes Rocha






Foto: vista panorâmica da cidade e da estação de Belford Roxo da janela da prefeitura








Foto: Vista panorâmica da cidade










Foto: feira no correr em frente a estação

Notas:
(1) Entrevista disponível em vídeo no link:
https://www.youtube.com/watch?v=zhsjD-QP9UE
(2) Sequência e detalhes em Anselmo (2008), págs. 47 e 48.
(3) Informações completas sobre o projeto disponível em:
http://www.rj.gov.br/web/informacaopublica/exibeconteudo?article-id=1043614
(4) Entrevista disponível em vídeo no link:
https://www.youtube.com/watch?v=wIwIOVrcpSI
(5) Site do Centro cultural: http://www.donana.org.br/
(6) Disponível em: http://vimeo.com/101009374



Sugestões:
Hino de Belford Roxo
Disponível em: www.youtube.com/watch?v=QmOZ42YTFmA

Letra do hino de Belford Roxo
Disponível em: http://letras.mus.br/hinos-de-cidades/473027/

Banda Cabeça de Nêgo (Grupo de Ragae do componente Héliton)
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Fob1J_j2B8g

Segunda parte da entrevista com o animador cultural Odarci Cardoso
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zalMBvF9grk

História das cidades da Baixada Fluminense, Parte 1
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=upX6HKi1Zxg

Instituto De arqueologia brasileira
Disponível em: http://www.arqueologia-iab.com.br/

Bibliografia

Instituto brasileiro de geografia e estatística; Censo cidades 2010, Belford Roxo.
Disponível em: http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=330045
Visualizado em 01 de outubro de 2014.

RODRIGUES, A. P. S. FAMÍLIAS, CASAS E ENGENHOS: A PRESERVAÇÃO DO
PATRIMÔNIO NO RIO DE JANEIRO (PIEDADE DO IGUAÇU E JACUTINGA, SÉCULO
XVII-XVIII). Dissertação de mestrado em história. Orientação: Roberto Guedes Ferreira.
UFRRJ-IM, Nova Iguaçu, 2013

Estudo socioeconômico da cidade de Belford Roxo. Tribunal de Contas do estado do Rio
de janeiro (TCE - RJ). Secretaria Geral de Planejamento 2011
Disponível em: http://www.cedca.rj.gov.br/pdf/BelfordRoxo.pdf
Visualizado em 01 de outubro de 2014.

ANSELMO, G. C. R.; A construção da rede socioassistencial do município de Belford
Roxo na perspectiva do PNAS/SUAS: limites e possibilidades; orientadora:
Myrtes de
Aguiar Macêdo. – 2008.

RODRIGUES, M. S . F.; MIRANDA, A. C. Um estudo acerca da distribuição de água na
cidade do Rio de Janeiro, no período de 1870 – 1889. In: IV encontro nacional de ensino
de ciências da saúde e ambiente. Niterói – 2014

PERES, G. A etrada de ferro Rio d'Ouro: A ferrovia das águas. In: Revista Pilares da
História, Ano II, no 2, pag. 19 à 26. Maio de 2003.

SILVA, Leonardo Rabelo de Matos. Belford Roxo: razões para a queda da criminalidade.
In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, VI, n. 13, maio 2003.

MONTEIRO, L.A. Para além do “voto de sangue”: escolhas populares e liderança política
carismática na Baixada Fluminense. O caso Joca. In: Cadernos do Desenvolvimento
Fluminense, Rio de Janeiro, n.2, julho/ 2013

Mapa Cultural do Estado do Rio de Janeiro. Cidade de Belford Roxo Disponível em:
http://mapadecultura.rj.gov.br/cidade/belford-roxo
Visualizado em 01 de outubro de 2014.


Por: Simone, Gabriel Ferreira, Gustavo Boechat, Héliton, Eduardo e Renato