O presente trabalho, através de uma visita técnica à
cidade de Magé, buscou dar visibilidade a elementos históricos e culturais da
cidade, que assim como toda a Baixada Fluminense, sofre com os estigmas sociais
e o racismo ambiental da grande mídia e da classe dominante, como destaca José Cláudio Alves, professor da UFRRJ
e um assíduo pesquisador da violência nos municípios da baixada fluminense.
O município
apresenta patrimônios importantíssimos para a história do Rio de Janeiro,
sobretudo para o período imperial, quando Magé assumia um caráter de cidade
portuária, contendo dois dos mais importantes portos do Brasil na época, e a
primeira estrada de ferro do país, alavancando o transporte de mercadorias e
facilitando a locomoção da Família Real que residia em Petrópolis, para o
Centro do Rio de Janeiro, então capital na época. Magé também favorecia
geograficamente o transporte de metais preciosos para as Minas Gerais, mais
especificamente, para a famosa Vila Rica.
A comparação
de recortes passados, com aspectos atuais do município, é imprescindível para
um maior entendimento sobre como se transformaram as dinâmicas de uso do
território e evidenciar a negligência do poder público em alguns casos os quais
não procurou preservar de forma adequada a história Mageense.
A primeira estrada
de ferro do Brasil foi criada por Barão de Mauá, sendo inaugurada em 1854. Até
então, seguiria da Praia de Mauá até o distrito de Fragoso. Em 1856, a linha se
estenderia até Raiz da Serra. O Porto
Mauá era interligado à Estação Guia de Pacobaíba, tendo um valor histórico
importantíssimo, já que nele atracavam as embarcações vindas do Antigo Largo da
Prainha, atual Praça Mauá através da Baía de Guanabara, promovendo uma relação
íntima com os sujeitos do império que se direcionavam à Petrópolis e à Minas
Gerais. Magé representa o alvorecer da história férrea brasileira.
Ruínas
do Porto Mauá (2014)
Ao visitar o local do antigo Porto Mauá e Estação Guia de
Pacobaíba, nota-se que boa parte da estrutura portuária se perdeu, restando
apenas sua estrutura de ferro que os habitantes de Mauá chamam de ‘’Ponte de
Ferro’’. A estação Guia de Pacobaíba recebeu investimentos em restauração para
a abertura e exposição de peças da Locomotiva e objetos históricos à população.
O Trecho Ferroviário Mauá-Fragoso foi tombado pelo Patrimônio Artístico
Nacional em 1954. Decreto – Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937.
Ruínas da locomotiva
Leopoldina (2014)
Porto Mauá/ Estação Guia de Pacobaíba
(2014)
Além do Porto Mauá, na Baía de Guanabara, havia outros
portos com vital importância para a cidade do Rio de Janeiro, dentre eles o
Porto Estrela, situado as margens do Rio Inhomirim, Magé.
O Porto da Estrela foi o maior porto de Magé, era um
ponto estratégico para o escoamento de riquezas para Portugal, sendo passagem
imprescindível para a Serra de Petrópolis e para o interior do Rio de Janeiro e
Minas Gerais. Atualmente, o Porto Estrela encontra-se em destroços, sem
investimentos para preservação e com um difícil acesso para turistas.
Porto Estrela (S/D)
O Rio Inhomirim foi um importante elo entre a Praça XV,
centro do Rio de Janeiro, e o Porto da Estrela na cidade de Magé. O escoamento
da produção era possibilitado por suas navegações, bem como a progressão do
povoamento por seus vales enquanto o Rio de Janeiro era apenas uma capitania.
Rio Inhomirim (S/D)
Rio Inhomirim (2014)
Deixando a área litorânea de Magé e se direcionando a
estação de Inhomirim, atual Raiz da Serra, podem-se notar vestígios da primeira
estrada de ferro do Brasil em meio à cidade, ignorada pela população, escondida
em meio ao comércio local e perdida no tempo.
A estação de Piabetá é o último ponto onde podemos
encontrar a estrada de ferro em meio à cidade, duas estações antes do ponto
final da Locomotiva, onde atualmente é o ponto final da Supervia[1],
na estação Vila Inhomirim.
Estação Vila
Inhomirim – Séc. XIX
Estação Vila
Inhomirim (2014)
Em Raiz da Serra (Vila Inhomirim), pode-se encontrar,
porém não visitar, a atual Indústria de Material Bélico do Brasil – IMBEL
fundada primeiramente em 1808 por D. João VI como a Fábrica de Pólvora da Lagoa
Rodrigo de Freitas, localizada no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Em 1826
foi transferida para a cidade de Magé-RJ, com a denominação de Real Fábrica de
Pólvora da Estrela, mediante Decreto de D. Pedro I.
A partir de 1939 foi reestruturada, passando a ter a
atual denominação de Fábrica da Estrela, funcionando como uma Organização
Militar do Ministério do Exército até a criação da IMBEL em 1975.
Antiga
Fábrica da Estrela, Raiz da Serra.
IMBEL, Raiz da Serra, 2014
Com a Instalação da IMBEL em Raiz da Serra, foram
construídas duas vilas de operários, dentro e fora do complexo industrial.
Percebe-se a nítida dicotomia entre a moradia do operariado e dos militares de
altas patentes.
Casarão, IMBEL, Raiz
da Serra (2014)
Vila Operária, IMBEL, Raiz da Serra (2014)
As fontes eram agentes
importantes no contexto espacial das cidades no período Imperial, já que a
precarização de saneamento básico e água potável era evidente na época. Em Raiz
da Serra ainda encontra-se a fonte ‘’Pico da Rainha’’, atualmente inativa.
Foto (S/D)
Foto 2014
Ao lado da estação Inhomirim, pode-se encontrar o caminho
do Proença que foi criado por um Sargento-Mor chamado Bernardo Soares de
Proença em 1722 para ligar o Rio de Janeiro à Minas Gerais. O Caminho foi calçado com pedras através de
escravos e a cada escravo morto, uma cruz era talhada como lembrança.
O trajeto se iniciava no Porto Estrela até Petrópolis,
descendo o Vale do Paraíba, diminuindo o tempo de viagem para Vila Rica em
quatro dias.
Caminho do Ouro (2014)
É sempre importante
valorizarmos as manifestações culturais propostas na Baixada Fluminense. Magé
também tem seu coletivo, o OPM. Estimulado pelas jornadas de junho de 2013, ele
busca a promoção do encontro entre pessoas dispostas a pensar de forma
resistente, os estigmas institucionalizados sobre a Baixada, e mais
especificamente, sobre Magé. São organizados saraus, rodas culturais com
música, danças, bibliotecas de rua e etc.
Por: Felipe Rodrigues, Júlia
Ananda, Lisiane Frazão, Lucas Quintanilha e Yago Anjos
[1]SuperVia –Empresa queopera o serviço de trens urbanos da
Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Mais informações:
http://www.supervia.com.br/quemsomos.php (Ultimo acesso em: 25/11/2014)
Que texto incrível!
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho.
ResponderExcluirGosto de esudar a rica hisória de Magé, mesmop sendo friburguense.
Mais uma vez, parabéns pela óbra.
Gostaria de fazer uma correção sem desmerecer o belíssimo trabalho, a primeira foto onde a legenda anuncia Estação de Vila Inhomirim em preto e branco, na verdade trata-se da primeira estação ferroviária do centro de Petrópois.
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho
Verdade essa fotografia da estação é verdadeiramente de Petrópolis.
ExcluirA bica da rainha continua ativa em seu pleno funcionamento eu moro perto dela em Raiz da Serra.
ResponderExcluirUm belo trabalho,adorei. Mesmo sendo nascido em Fragoso, não conhecia a história. Parabéns; fico grato por isso. Acho que as pessoas deveriam saber mais sobre Magé.
ResponderExcluirPe na que algumas fotos não receberam o acompanamento de Sciammmarella
ResponderExcluirA bica da rainha está ativa atualmente 2021
ResponderExcluirA foto da estação não é de Vila Inhomirim, mas a estação de Petropolis
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