quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Memórias de Magé: Uma abordagem histórica e espacial sobre as riquezas do município de Magé, no Rio de Janeiro.

O presente trabalho, através de uma visita técnica à cidade de Magé, buscou dar visibilidade a elementos históricos e culturais da cidade, que assim como toda a Baixada Fluminense, sofre com os estigmas sociais e o racismo ambiental da grande mídia e da classe dominante, como destaca José Cláudio Alves, professor da UFRRJ e um assíduo pesquisador da violência nos municípios da baixada fluminense.

O município apresenta patrimônios importantíssimos para a história do Rio de Janeiro, sobretudo para o período imperial, quando Magé assumia um caráter de cidade portuária, contendo dois dos mais importantes portos do Brasil na época, e a primeira estrada de ferro do país, alavancando o transporte de mercadorias e facilitando a locomoção da Família Real que residia em Petrópolis, para o Centro do Rio de Janeiro, então capital na época. Magé também favorecia geograficamente o transporte de metais preciosos para as Minas Gerais, mais especificamente, para a famosa Vila Rica.

A comparação de recortes passados, com aspectos atuais do município, é imprescindível para um maior entendimento sobre como se transformaram as dinâmicas de uso do território e evidenciar a negligência do poder público em alguns casos os quais não procurou preservar de forma adequada a história Mageense.
           
 A primeira estrada de ferro do Brasil foi criada por Barão de Mauá, sendo inaugurada em 1854. Até então, seguiria da Praia de Mauá até o distrito de Fragoso. Em 1856, a linha se estenderia até Raiz da Serra.  O Porto Mauá era interligado à Estação Guia de Pacobaíba, tendo um valor histórico importantíssimo, já que nele atracavam as embarcações vindas do Antigo Largo da Prainha, atual Praça Mauá através da Baía de Guanabara, promovendo uma relação íntima com os sujeitos do império que se direcionavam à Petrópolis e à Minas Gerais. Magé representa o alvorecer da história férrea brasileira.

Ruínas do Porto Mauá (2014)

Ao visitar o local do antigo Porto Mauá e Estação Guia de Pacobaíba, nota-se que boa parte da estrutura portuária se perdeu, restando apenas sua estrutura de ferro que os habitantes de Mauá chamam de ‘’Ponte de Ferro’’. A estação Guia de Pacobaíba recebeu investimentos em restauração para a abertura e exposição de peças da Locomotiva e objetos históricos à população. O Trecho Ferroviário Mauá-Fragoso foi tombado pelo Patrimônio Artístico Nacional em 1954. Decreto – Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937.

Ruínas da locomotiva Leopoldina (2014)   
    


Porto Mauá/ Estação Guia de Pacobaíba (2014)

Além do Porto Mauá, na Baía de Guanabara, havia outros portos com vital importância para a cidade do Rio de Janeiro, dentre eles o Porto Estrela, situado as margens do Rio Inhomirim, Magé.

O Porto da Estrela foi o maior porto de Magé, era um ponto estratégico para o escoamento de riquezas para Portugal, sendo passagem imprescindível para a Serra de Petrópolis e para o interior do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Atualmente, o Porto Estrela encontra-se em destroços, sem investimentos para preservação e com um difícil acesso para turistas.

Porto Estrela (S/D)

O Rio Inhomirim foi um importante elo entre a Praça XV, centro do Rio de Janeiro, e o Porto da Estrela na cidade de Magé. O escoamento da produção era possibilitado por suas navegações, bem como a progressão do povoamento por seus vales enquanto o Rio de Janeiro era apenas uma capitania.

 Rio Inhomirim (S/D)

Rio Inhomirim (2014)
Deixando a área litorânea de Magé e se direcionando a estação de Inhomirim, atual Raiz da Serra, podem-se notar vestígios da primeira estrada de ferro do Brasil em meio à cidade, ignorada pela população, escondida em meio ao comércio local e perdida no tempo.

A estação de Piabetá é o último ponto onde podemos encontrar a estrada de ferro em meio à cidade, duas estações antes do ponto final da Locomotiva, onde atualmente é o ponto final da Supervia[1], na estação Vila Inhomirim.

Estação Vila Inhomirim – Séc. XIX

Estação Vila Inhomirim (2014)

Em Raiz da Serra (Vila Inhomirim), pode-se encontrar, porém não visitar, a atual Indústria de Material Bélico do Brasil – IMBEL fundada primeiramente em 1808 por D. João VI como a Fábrica de Pólvora da Lagoa Rodrigo de Freitas, localizada no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Em 1826 foi transferida para a cidade de Magé-RJ, com a denominação de Real Fábrica de Pólvora da Estrela, mediante Decreto de D. Pedro I.
A partir de 1939 foi reestruturada, passando a ter a atual denominação de Fábrica da Estrela, funcionando como uma Organização Militar do Ministério do Exército até a criação da IMBEL em 1975.

Antiga Fábrica da Estrela, Raiz da Serra.

IMBEL, Raiz da Serra, 2014

Com a Instalação da IMBEL em Raiz da Serra, foram construídas duas vilas de operários, dentro e fora do complexo industrial. Percebe-se a nítida dicotomia entre a moradia do operariado e dos militares de altas patentes.

Casarão, IMBEL, Raiz da Serra (2014)

Vila Operária, IMBEL, Raiz da Serra (2014)

As fontes eram agentes importantes no contexto espacial das cidades no período Imperial, já que a precarização de saneamento básico e água potável era evidente na época. Em Raiz da Serra ainda encontra-se a fonte ‘’Pico da Rainha’’, atualmente inativa.

Foto (S/D)

Foto 2014

Ao lado da estação Inhomirim, pode-se encontrar o caminho do Proença que foi criado por um Sargento-Mor chamado Bernardo Soares de Proença em 1722 para ligar o Rio de Janeiro à Minas Gerais. O Caminho foi calçado com pedras através de escravos e a cada escravo morto, uma cruz era talhada como lembrança.

O trajeto se iniciava no Porto Estrela até Petrópolis, descendo o Vale do Paraíba, diminuindo o tempo de viagem para Vila Rica em quatro dias.

Caminho do Ouro (2014)

É sempre importante valorizarmos as manifestações culturais propostas na Baixada Fluminense. Magé também tem seu coletivo, o OPM. Estimulado pelas jornadas de junho de 2013, ele busca a promoção do encontro entre pessoas dispostas a pensar de forma resistente, os estigmas institucionalizados sobre a Baixada, e mais especificamente, sobre Magé. São organizados saraus, rodas culturais com música, danças, bibliotecas de rua e etc.

Por: Felipe Rodrigues, Júlia Ananda, Lisiane Frazão, Lucas Quintanilha e Yago Anjos



[1]SuperVia –Empresa queopera o serviço de trens urbanos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Mais informações: http://www.supervia.com.br/quemsomos.php (Ultimo acesso em: 25/11/2014)

9 comentários:

  1. Parabéns pelo trabalho.
    Gosto de esudar a rica hisória de Magé, mesmop sendo friburguense.
    Mais uma vez, parabéns pela óbra.

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  2. Gostaria de fazer uma correção sem desmerecer o belíssimo trabalho, a primeira foto onde a legenda anuncia Estação de Vila Inhomirim em preto e branco, na verdade trata-se da primeira estação ferroviária do centro de Petrópois.
    Parabéns pelo trabalho

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    1. Verdade essa fotografia da estação é verdadeiramente de Petrópolis.

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  3. A bica da rainha continua ativa em seu pleno funcionamento eu moro perto dela em Raiz da Serra.

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  4. Um belo trabalho,adorei. Mesmo sendo nascido em Fragoso, não conhecia a história. Parabéns; fico grato por isso. Acho que as pessoas deveriam saber mais sobre Magé.

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  5. Pe na que algumas fotos não receberam o acompanamento de Sciammmarella

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  6. A bica da rainha está ativa atualmente 2021

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  7. A foto da estação não é de Vila Inhomirim, mas a estação de Petropolis

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