quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Belford Roxo: A cidade do amor.


Por: Eduardo , Gabriel Ferreira, Gustavo Boechat, Héliton Torres, Renato Gadioli e
Simone França


A origem  do município: dos Jacutinga à fazenda do Brejo
           Inserido na região metropolitana do Rio de Janeiro e mais especificamente na Baixada Fluminense, Belford Roxo se emancipou em 1 de Janeiro de 1993 e segundo o Censo 2010 do IBGE possui uma área de 77,815 Km2, onde vive uma população de 469.332 habitantes, o que resulta em uma das maiores densidades demográficas do Rio de Janeiro (6.381,38 hab./Km2). Para tentarmos entender o que hoje é a cidade, precisamos voltar no tempo para conhecer a sua história e evolução urbana. Por meio de um trabalho de campo realizado no centro do município de Belford Roxo, no dia 08 de outubro de 2014, foi possível entrevistar alguns moradores que pouco conheciam  ou tinham algum interesse em conhecer a história da cidade, sendo apenas citado a emancipação do município como fato recente da história local.

Foto: Belford Roxo e sua localização 
dentro da região metropolitana do Rio de Janeiro


Fonte: IBGE cidades 2010 Belford Roxo

Foto: Divisão regional de Belford Roxo e seus bairros
Fonte: http://suelydebemcomavida.blogspot.com.br/2012/01/mapa-da-cidade-de-belford-roxo.html

A localização das terras onde hoje é a cidade foi assinalada pela primeira vez em 1566, pelo mapa elaborado por João Teixeira Albernaz II, entre os rios "Merith, Simpuiy e Agoassu" , segundo estudo socioeconômico da cidade de Belford Roxo elaborado pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ). Sua ocupação antes da colonização era indígena, como em todo o território brasileiro, em especial dos Jacutinga. Uma marca da presença indígena na cidade se dá pelo bairro de Xavantes, onde as ruas são nomeadas por palavras de vocábulos indígenas, como diz Odarci Cardoso, animador cultural morador da cidade em entrevista (1).
            Na época da colonização inicial, as terras faziam parte da capitania de São Vicente, e por ser uma região alagadiça (como grande parte da Baixada Fluminense), se tornava um local pouco atraente aos colonizadores portugueses, tornando-a objeto de cobiça dos  franceses, que aliaram-se a grupos indígenas resistentes à colonização portuguesa, em combates pelo território. Depois da expulsão dos franceses, somente em meados do século XVIII, com divisões das sesmarias, estas terras são registradas e colonizadas em nome do capitão Apolinário Maciel e de seu irmão padre Antônio Maciel, que se instalaram ali para o cultivo de cana-de-açúcar (Rodrigues, 2013). Neste período, a localidade passa então a ser conhecida como Engenho do Brejo pelo aspecto alagadiço da fazenda em épocas de cheia do rio Sarapui, que cortava a região. É importante ressaltar que, a localidade onde hoje se encontra Belford Roxo, até a data de 15 de janeiro de 1833, era parte integrante da cidade do Rio de Janeiro, quando passou a integrar então, o quarto distrito do município de Iguaçu (Anselmo, 2008).

Foto: Fazenda do Brejo em 1872



Foto: Fazenda do Brejo nos dias de hoje


            A localidade se torna um importante centro de escoamento da produção local por possuir um porto às margens do rio Sarapuí, pelo qual era escoada a cana-de-açúcar e outros produtos agrícolas ali cultivados. A prosperidade de colheitas e engenho de toda a freguesia de Santo Antônio de Jacutinga, da qual fazia parte a então fazenda do Brejo, se estendeu até meados do século XIX, quando a região começa a ser povoada com a chegada da estrada de ferro Rio d'Ouro.

A estrada de ferro Rio d'Ouro e povoamento
            A capital do império, na segunda metade do século XIX, se modernizava e se estruturava com as referências europeias trazidas pelo imperador Dom Pedro II mas, um grande problema que se estendia desde o início da colonização e que se agravava ainda mais com o aumento da população e o processo de degradação, necessitava de uma solução urgente: a difícil captação de água potável.
            O engenheiro Antônio P. Rebouças, no ano de 1870, propõe então a captação da água da serra do Comércio (atual serra do Tinguá) e para isso era necessário o transporte de grandes tubos de ferro e melhor mobilidade de transporte dos operários e escravos que trabalhariam nesta grandiosa obra (Peres, 2003). Foram importados trilhos e locomotivas para esta função, e instalada a linha de ferro Rio d'Ouro, que ligava a praia do Caju, no Rio de Janeiro, até os mananciais do Rio d'Ouro. A ferrovia foi inaugurada em 1880, e somente em 1883, em caráter provisório, inicia-se o transporte de passageiros. Este seria o grande motivador do processo de ocupação da região de Belford Roxo. Com esta intensificação, o então dono da antiga fazenda do Brejo, Almerindo Coelho da Rocha, desfez-se dela, vendendo-a para futuro loteamento.
            Em janeiro de 1888, o verão trouxe então uma grande estiagem para a capital, agravando ainda mais a precária captação de água e as epidemias, principalmente de varíola. Nem mesmo o projeto de captação feita anteriormente era suficiente para o abastecimento. O imperador, em busca de soluções rápidas (Rodrigues e Miranda, 2014), se interessa pelo projeto ousado do engenheiro André Gustavo Paulo de Frontin, que prometia a captação de 15 milhões de litros de água em 6 dias, aproveitando-se do já implantado duto e ferrovia, com o custo de apenas 80 contos de réis (Peres, 2013). De fato, Paulo de Frontin cumpre sua promessa.
Imagem: Charge sobre o milagre das águas

Uma marca deste feito é uma das esculturas que hoje pode ser encontrada na praça Getúlio Vargas, no centro. Trata-se de um chafariz com formato de mulher, representação da deusa da água, de etnia branca, mas com a oxidação, toma cores amarronzadas, recebendo assim o nome de Bica da Mulata.


Foto: Bica da Mulata, que se encontrava no século XIX, na estação Belford Roxo.
Fonte: Arquivo pessoal

Na grandiosa obra de Paulo de Frontin, participou como grande colaborador o inspetor geral de obras públicas Raymundo Teixeira Belfort Roxo, que seria homenageado mais tarde com a nomeação da região da antiga fazenda do Brejo, mudando apenas a grafia para Belford Roxo.
            Nos anos que se seguiram, a região seguiu a tendência de Nova Iguaçu de plantio de laranjas, que prosperaram até meados dos anos de 1940. Com o fim da segunda guerra e a proibição da exportação de laranjas pelo o governo para incentivar os loteamentos e o mercado imobiliário (Anselmo, 2008), há um crescimento populacional de 219% na região.

Implantação da Bayer e emancipação
            Com a implantação da avenida Presidente Dutra e seguindo a crescente instalações de fábricas em seu entorno, é inaugurada no então distrito de Belford Roxo a fábrica da Bayer. Esta fábrica foi inaugurada em 1958, fazendo parte do ideal de Juscelino Kubitschek em modernizar o país.
Foto: Bayer Belford Roxo vista pelo o alto

Fonte:http://www.profibus.org.br/news/outubro2008/news.php?dentro=3


O distrito então apresentava a maior arrecadação do município de Nova Iguaçu, mas não se notava o retorno em serviços e infraestrutura, inclusive o estigma de região mais violenta do mundo, segundo a ONU na década de 1980 (Silva, 2003). A partir de 1985, começa um movimento pró-emancipação do distrito, liderado por Jorge Júlio Costa dos Santos, o Joca. Este movimento ganha adesão popular e dos empresários e comerciantes da região (Anselmo, 2008). A emancipação é então votada em plebiscito no ano de 1988 e 95% da população vota a favor. No ano de 1990, o projeto de lei foi votado na Assembleia Legislativa do Estado e aprovada por unanimidade. Em 03 de abril de 1992, através da lei n° 1640, Belford Roxo emancipa-se, e tem a eleição da primeira prefeitura a partir de 1 de janeiro de 1993, com o prefeito Joca eleito no ano anterior.



Foto: Jorge Júlio Costa dos Santos, o Joca.

             Joca, antes de eleito, vivia uma vida transgressora. Como cita Anselmo(2008), trabalhou como carroceiro, praticava atos ilícitos, como assaltar caminhões de carga e abastecer o comércio local, em troca de proteção pessoal. Tornou-se empresário, e também foi acusado de matador de aluguel, mas não foi condenado.
            Seu governo foi marcado pela 'caridade', favores e a presença de justiceiros, que com a falta de políticas públicas de segurança ganham status de 'protetores'. O governo de Joca também se destaca pela “propaganda” para desvincular a imagem da cidade da violência, com o slogan cidade do amor, e adotando na bandeira e brasão um coração (Silva, 2003).
            Joca foi assassinado em 1995, com 11 tiros (Monteiro, 2013), em um suposto assalto em um engarrafamento na saída do túnel Santa Bárbara, na capital, a caminho de uma reunião com o então governador Marcelo Alencar. 

A cidade desde então se caracteriza por uma política violenta e conturbada, com escândalos e disputa de poderes.
Foto: Notícia da morte de Joca no ano de 1995
Fonte: http://noticiasdebelfordroxo.blogspot.com.br/2013/06/morte-do-1-prefeito-de-belford-roxo-completa-18-anos.html

Os dias de hoje na cidade
            A cidade sofre nos dias de hoje reflexos da ocupação desordenada e descaso político. O saneamento básico da cidade é precário, como podemos ver em campo e conversando com moradores. As enchentes são frequentes, os rios que um dia refletiam prosperidade se encontram degradados e recebem milhões de litros de esgoto sem tratamento, problema não só do município, mas presente em todo o estado. Existe um projeto do governo do estado do Rio de Janeiro chamado Projeto Iguaçu (3), que promete melhorar estas condições, mas os resultados não solucionam os problemas.
Outro problema visível no cotidiano do município é o transporte público. Mesmo com a existência da linha férrea, o terminal se encontra no centro, sendo distante para a grande maioria dos moradores da cidade. Outro transporte recorrente é o ônibus, que na grande maioria dos que circulam pela cidade fazem um percurso intermunicipal. Com apenas estas duas opções de transporte público, a atividade de transportes alternativos não autorizados se intensificam, como podemos perceber em campo. Em entrevista com o prefeito Dennis Dauttman(4), ele cita um projeto em aprovação para a implantação de um veículo leve sobre trilhos (VLT) ligando Nova Iguaçu até o metrô da Pavuna, passando pela a cidade, prometendo assim uma maior mobilidade. O prefeito também cita estratégias para fazer Belford Roxo deixar de ser uma cidade dormitório com incentivos para atrair comércios e indústrias.
Foto: Estação de Belford Roxo
Fonte: Arquivo pessoal

Obras de trocas de manilhas na rua José Haddad. Fonte: Arquivo pessoal

Cultura e lazer
            A cultura e o lazer são mais dois aspectos que se nota o descaso de anos dos governantes. A cultura de Belford Roxo, mesmo que muito rica, se apresenta como uma cultura de resistência. Encontra-se na cidade, polos de cultura criados e mantidas pela comunidade, como exemplo o centro cultural Donana(5), também tema de um documentário com sua história(6). Muitos nomes importantes para a cultura são nascido em Belford Roxo como Marcelo Yuka, Jovelina Pérola Negra e Seu Jorge, entre outros, além de ser berço do grupo Cidade Negra como cita o Mapa cultural do Estado.
          
Foto: Centro cultural Donana nos anos 1980


Nas entrevistas realizadas pelo grupo, quando perguntados sobre opções de lazer na cidade, todas as respostas apontaram o pequeno shopping há pouco inaugurado, evidenciando a demanda por outros equipamentos de lazer na cidade, e os que já existem como a Vila Olímpica e o Country Clube, não são acessíveis a todos os públicos.
Foto: Shopping Nova Belford-roxo.  
Fonte: Arquivo Pessoal

Considerações finais
            Além de se notar uma cidade carente da presença do estado, percebemos que ali se localiza uma população acolhedora e batalhadora. Mantemos a esperança de voltar à cidade e ver que enfim, toda a bela história foi compensada por um belo futuro para a sua população, condizendo assim com sua história e cultura rica e próspera.

Galeria de fotos pessoais de Belford Roxo






Foto da igreja Matriz de N. S. Da Conceição






Foto: Escultura em homenagem a emancipação em frente a estação









Foto: Divisão de homicídios da baixada fluminense que se encontra na rua Floripes Rocha






Foto: vista panorâmica da cidade e da estação de Belford Roxo da janela da prefeitura








Foto: Vista panorâmica da cidade










Foto: feira no correr em frente a estação

Notas:
(1) Entrevista disponível em vídeo no link:
https://www.youtube.com/watch?v=zhsjD-QP9UE
(2) Sequência e detalhes em Anselmo (2008), págs. 47 e 48.
(3) Informações completas sobre o projeto disponível em:
http://www.rj.gov.br/web/informacaopublica/exibeconteudo?article-id=1043614
(4) Entrevista disponível em vídeo no link:
https://www.youtube.com/watch?v=wIwIOVrcpSI
(5) Site do Centro cultural: http://www.donana.org.br/
(6) Disponível em: http://vimeo.com/101009374



Sugestões:
Hino de Belford Roxo
Disponível em: www.youtube.com/watch?v=QmOZ42YTFmA

Letra do hino de Belford Roxo
Disponível em: http://letras.mus.br/hinos-de-cidades/473027/

Banda Cabeça de Nêgo (Grupo de Ragae do componente Héliton)
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Fob1J_j2B8g

Segunda parte da entrevista com o animador cultural Odarci Cardoso
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zalMBvF9grk

História das cidades da Baixada Fluminense, Parte 1
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=upX6HKi1Zxg

Instituto De arqueologia brasileira
Disponível em: http://www.arqueologia-iab.com.br/

Bibliografia

Instituto brasileiro de geografia e estatística; Censo cidades 2010, Belford Roxo.
Disponível em: http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=330045
Visualizado em 01 de outubro de 2014.

RODRIGUES, A. P. S. FAMÍLIAS, CASAS E ENGENHOS: A PRESERVAÇÃO DO
PATRIMÔNIO NO RIO DE JANEIRO (PIEDADE DO IGUAÇU E JACUTINGA, SÉCULO
XVII-XVIII). Dissertação de mestrado em história. Orientação: Roberto Guedes Ferreira.
UFRRJ-IM, Nova Iguaçu, 2013

Estudo socioeconômico da cidade de Belford Roxo. Tribunal de Contas do estado do Rio
de janeiro (TCE - RJ). Secretaria Geral de Planejamento 2011
Disponível em: http://www.cedca.rj.gov.br/pdf/BelfordRoxo.pdf
Visualizado em 01 de outubro de 2014.

ANSELMO, G. C. R.; A construção da rede socioassistencial do município de Belford
Roxo na perspectiva do PNAS/SUAS: limites e possibilidades; orientadora:
Myrtes de
Aguiar Macêdo. – 2008.

RODRIGUES, M. S . F.; MIRANDA, A. C. Um estudo acerca da distribuição de água na
cidade do Rio de Janeiro, no período de 1870 – 1889. In: IV encontro nacional de ensino
de ciências da saúde e ambiente. Niterói – 2014

PERES, G. A etrada de ferro Rio d'Ouro: A ferrovia das águas. In: Revista Pilares da
História, Ano II, no 2, pag. 19 à 26. Maio de 2003.

SILVA, Leonardo Rabelo de Matos. Belford Roxo: razões para a queda da criminalidade.
In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, VI, n. 13, maio 2003.

MONTEIRO, L.A. Para além do “voto de sangue”: escolhas populares e liderança política
carismática na Baixada Fluminense. O caso Joca. In: Cadernos do Desenvolvimento
Fluminense, Rio de Janeiro, n.2, julho/ 2013

Mapa Cultural do Estado do Rio de Janeiro. Cidade de Belford Roxo Disponível em:
http://mapadecultura.rj.gov.br/cidade/belford-roxo
Visualizado em 01 de outubro de 2014.


Por: Simone, Gabriel Ferreira, Gustavo Boechat, Héliton, Eduardo e Renato

4 comentários:

  1. ótimo artigo! de grande valia para a pesquisa que pretendo fazer na região

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  2. Gostei também deste artigo e gostaria de fazer um adendo no qual sugiro uma atualização de tempos em tempos (com a mesma sutileza de informações e imagens), para que gerações futuras, possam ter conhecimentos das evoluções do nosso querido município de Belford Roxo!
    Cada evolução, por menor que seja... contribui para um tijolinho a mais na construção da nossa história !

    Grande abraço aos futuros leitores deste blogg !

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  3. bom de mais lendo essa geografia percebi que belfordroxo tinha jeito agora nao tem mais :(.. porem as novas geraçoes tem que ler essa geografia pra tentar ter uma visao melhor da cidade..2021

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  4. Tenho fé e ja vejo Belford Roxo como uma brilhante e Feliz CIDADE, Felicidade a todos.

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