Por: Camila Domingues, Guilherme Preato, Hélder Cabral, Júlia Calazans, Vitória Mendonça
Duque
de Caxias, município localizado na Região Metropolitana do estado do Rio de
Janeiro, parte constituinte da chamada Baixada Fluminense. Outrora distrito do atual município de Nova Iguaçu, tem sua origem mais remota no extinto
município de Estrela. Em 1943, constituía-se de três distritos: Duque de
Caxias, Meriti e Imbariê, este último pertencia ao município de Estrela. Em
1947, Meriti é desmembrado de Caxias, formando o então município de São João de
Meriti. Em 1954, os distritos de Campos Elyseos e Xerém são desmembrados do
distrito Imbariê. Por fim, desde 1960, Caxias mantém-se com 4 distritos: Duque
de Caxias (1º), Campos Elyseos (2°), Imbariê (3º) e Xerém (4º).
A ocupação dessa região da Baixada deu-se gradativamente, tendo envolvimento
direto com os transportes, iniciando-se com o tráfego de pessoas e, sobretudo,
mercadorias por intermédio dos rios, inicialmente que depois foram substituídos pela ferrovia e mais tarde pelas rodovias.
Outras características que impulsionaram o adensamento populacional do município foram as
áreas extensas e de baixo custo quando comparadas com as da cidade do Rio de
Janeiro, isso quando havia controle administrativo. Esses fatores foram fundamentais para a modificação regional nos seus mais
diversos aspectos. Dessa forma, o presente texto tem o objetivo de destacar a
evolução histórica da dinâmica espacial do município nos seus aspectos
econômicos, políticos e sociais.
História do município
História do município
Após
o “redescobrimento” do território nacional no século XVI, os portugueses tiveram
uma atitude efetiva no que diz respeito à dinâmica ocupacional da Baixada após
franceses demonstrarem interesse pela terra e suas riquezas, tentando
invadí-las e aliando-se aos índios Tupinambás, que eram seus habitantes na
época. Consequentemente, tendo vitória nas disputas, a aversão dos portugueses
com relação aos indígenas aumenta, levando-os ao seu extermínio local, e
divide-se a região com as doações das sesmarias, promovendo a sua ocupação e
evitando novas invasões. Com isso, a região que hoje é Duque de Caxias foi
doada para Cristóvão Monteiro em 1565, sendo sucessivamente comprada pela ordem
de São Bento, tornando-se a mais importante fazenda da região.
No que diz respeito aos rios, a principal via de transporte da produção agrícola local, também foi um
fator relevante durante o ciclo de mineração, após o deslocamento do eixo
econômico – do nordeste para o sudeste –, tornando Caxias um ponto obrigatório
de passagem daqueles que se dirigiam às minas ou de lá regressavam, servindo
também para o descanso e o abastecimento de tropeiros, transbordo e trânsito de
mercadorias. Os rios Sarapuí, Iguaçu e Estrela facilitaram a ocupação, pois
serviam também como caminhos para o interior do continente.
Fig. 1. Porto Estrela, que constituía parte de
Magé e parte de Duque de Caxias. Suas atividades econômicas e a ocupação no
entorno foi tanto que, no séc. XIX, foi transformado em município.
Até
o séc. XIX, a força braçal era escrava, para a manutenção da salubridade local
e para o cultivo, sobretudo, de cana-de-açúcar. Além disso, lenha, milho,
mandioca, arroz e feijão, extraídos de Caxias, também serviam para o
abastecimento da capital. Ainda por alguns anos foi notável a prosperidade
lucrativa, entretanto, a partir da metade do século XIX, inicia-se a fase da
decadência. Em função do extrativismo, das tomadas predatórias de cultivo, os
resultados foram devastadores. Era característico o desmatamento e o
assoreamento de rios, o que resultou na devastação das matas, obstrução dos
rios, levando à ocorrência de transbordamentos, formando pântanos e mangues.
Além disso, a concentração da água poluída foi propícia para o surgimento de
mosquitos transmissores de febres. Em 1850, as epidemias grassam, levando os
senhores de engenho a mudarem-se para locais seguros.
Em
1883, foi aberta a Estrada de Ferro Rio D’Ouro, ligando a Quinta Imperial do
Caju à represa do Rio D’Ouro, construída com a finalidade de transportar
material para as obras de construção da nova rede de abastecimento de água da
cidade do Rio de Janeiro captada nos mananciais da Serra do Mar, em Tinguá e
Xerém, e utilizada, a princípio, apenas para os trabalhos de conservação do
sistema adutor e distribuidor, não impedindo que pequenos núcleos se
desenvolvessem ao longo de suas linhas (Abreu, 1997). Em 23 de abril de 1886,
outro trecho ferroviário foi inaugurado pela "The Rio de Janeiro Northern
Railway" ligando a Cidade do Rio à Estação de Meriti.
Nos
primeiros anos da República, algumas medidas para solucionar o problema com a
falta de saneamento foram tomadas, sem produzir efeitos esperados, pois havia a
descontinuidade de programas e precariedade recursos materiais. No Governo
de Nilo Peçanha (1909-1910) houve uma ação consistente em relação ao
saneamento da Baixada, mas insuficiente. No Governo de Delfim Moreira (1918-1919) foi
instaurado o Serviço de Profilaxia Rural, para o controle das endemias na
região, mesmo que o município permanecesse sendo um local com grave foco de malária; e no Governo de
Getúlio Vargas (1930, 1946) ocorre a abertura de canais, dragagem e
retificação dos grandes rios, realizado pelo prefeito Hildebrando de Góis
(1946-1947), "desaparecendo", assim, os pântanos. Dando proseguimento à reformulação funcional em
nome do “progresso”, Washington Luís, com seu slogan “Governar é abrir estradas",
em 28 de agosto de 1928 inaugurava-se a Estrada Rio-Petrópolis, que mais tarde,
em 1964, seria incluída no Plano Nacional de Viação, cuja redação estabelecia
sua extensão até a capital, Brasília, passando por cidades como Juiz de Fora,
Belo Horizonte. Outras medidas que favoreceram ainda mais o povoamento de Duque
de Caxias: o seu saneamento com o Serviço Nacional de Malária, instalado em
1938; instalação da primeira rede elétrica em 1924, e fundação da Escola
Proletária Meriti, que tinha seus moldes estabelecidos no "Estado
Novo". Lembrando que as áreas da Baixada Fluminense serviam para aliviar
as pressões demográficas excedentes da cidade do Rio de Janeiro prenunciadas no
"Bota Abaixo" do Prefeito Pereira Passos (1902-1906). Como resultado
dessas múltiplas transformações, houve o fracionamento e loteamento de antigas
propriedades rurais, tendo, inclusive, lutas entre proprietários, grileiros e
posseiros pela aquisição de terras. É também nessa década que é fundada a União
Popular Caxiense (UPC), a mais importante das associações do município – que
articulavam-se para encaminhar um memorial ao Interventor Federal do Estado,
Ernani do Amaral Peixoto, expondo a possibilidade do distrito de Caxias
emancipar-se –, pois servia como principal célula das demais entidades no
município, tendo em si o surgimento da consciência elistista emergente;
vinculada a ela, em 1937, houve a fundação da Associação Comercial de Caxias.
Na década de 40, a população atingia 100.000
habitantes, que caracterizava Duque de Caxias como "cidade
dormitório", porque grande parte desses habitantes concentrava no Distrito
Federal a sua atividade profissional. É também nessa época que grande parte da
área do município é também saneada pelo DNOS, do qual visava que áreas da Baixada
serviam para dotar a Capital da República de “um cinturão agrícola, tornando o
seu abastecimento independente de transportes longos e dispendiosos”, calcado
na “necessidade de evitar os problemas de abastecimento que haviam ocorrido
durante a 1ª Guerra Mundial”. (Abreu, 1997). Em meio a um ambiente favorecido
por serviços básicos e com o índice populacional ampliando-se, em 31 de
dezembro de 1943 foi elevado à categoria de Município.
O
Município, desde que tornou-se autônomo, recebeu grande impulso em sua economia,
sendo favorecido com investimentos estaduais e federais. A localização de um
parque de indústrias, entre as quais encontrava-se a Fábrica Nacional de
Motores, constituiu um fator de desenvolvimento acelerado, do qual a Refinaria
de Petróleo de Duque de Caxias (REDUC), com seu extraordinário conjunto
petroquímico em expansão, deu um rápido impulso e considerável estímulo. Porém,
essa autonomia foi abalada na década de 70, pois Caxias tornou-se "Área de
Segurança Nacional", com prefeitos sendo indicados pelo governo federal,
desta vez pelos militares que ocuparam o poder, só recuperando-a em 15 de
novembro de 1985, quando pôde escolher seu governante por meio do voto.
Desde
então, Duque de Caxias passou por diversas modificações físicas, em termos
de infraestrutura, e sociais, também na educação e com manifestações culturais.
Pensar nessas modificações é lembrar das lutas sociais, pois tais mudanças foram alcançadas com as
reivindicações e lutas do povo caxiense, bem como nos afirma o diretor da
Biblioteca Municipal Leonel Brizola, Prof.º Antônio Carlos, em uma entrevista
realizada pelo grupo. Um forte marco nessas lutas foi a participação e influência
da ICAR – Igreja Católica Apostólica Romana – na criação de diversas pastorais,
tais como: a Pastoral do Transporte, o Centro de Integração da Taquara, o Clube
de Mães, que eram ligados à igreja
devido à nova proposta trazida pelo novo Bispo Dom Mauro Morelli, que é
conhecida como a Teologia da Libertação.
Hoje,
a cidade possui duas principais fontes de renda: o forte comércio do 1º
Distrito, e o parque industrial de Duque de Caxias, no 4º Distrito – superando
até mesmo as atividades agropecuárias. Grande expressão disso é que, segundo o
IBGE, seu PIB atinge o 2º maior do Estado do Rio de Janeiro, ficando atrás
somente da capital. Com menor expressão, a maioria dos estabelecimentos
agrícolas está localizada no 3º e 4º Distritos, sendo a mandioca, a
cana-de-açúcar e a banana os principais produtos cultivados.
Referência
Bibliográfica:
ABREU,
Maurício de Almeida. A evolução urbana do
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLANRIO, 1997.
TORRES,
Rogério¹. Baixada Fluminense - a construção de uma história. Evolução histórica dos distritos e os
processos de emancipação.
MAGALHÃES,
Alex Lamonica... [et al.]. Alma(naque)...
da Baixada. Rio de Janeiro: APPH-CLIO, 2013.
Fonte
das imagens:
Links:
www.cidades.ibge.gov.br. Acessado em 11/11/2014.
www.amigosinstitutohistoricodc.com.br.
Acessado em 10/11/2014.
Notas:
¹Licenciado
em Pedagogia pelo Instituto de Educação Governador Roberto Silveira e em
História pela Sociedade Universitária Augusto Mota. Professor da rede pública
estadual do Rio de Janeiro. Sócio-fundador e membro da Associação dos Amigos do
Instituto Histórico.
²Citação
feita no início do século XX. Retirada da pág. 53 de A evolução urbana do Rio de Janeiro.
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